domingo, 16 de janeiro de 2011

Toalhas brancas e nuvens negras

Salve Zé:

Em paz?

Pois então, andei sumido, né? Mas é que o tempo anda curto mesmo, tenho me dedicado quase que completamente à Sonarts pra ver se a coisa anda, mas não é fácil!!! Bicho, se eu soubesse o trabalho que dá talvez tivesse pensado mais vezes antes de encarar o fardo. E o complicado é que a gente entrou nessa com a cara e com a coragem, sem staff, sem funcionários, sem mordomia alguma. Somos 3 malucos, cada um morando num canto, tropeçando nas pequenas coisas que nos atrapalham tanto na hora de fazer as grandes. Mas não há de ser nada, a gente tá dando conta. Já fizemos as primeiras tiragens dos 6 primeiros títulos da gravadora, faltam apenas detalhes burocráticos pra que eles sejam encaminhados pras distribuidoras. E já há mais cinco títulos em fabricação!!! Você vai gostar de saber que nesse bolo há uma quantidade muito grande de canções de caiubistas, e vem mais por aí!!! De todos os entraves e problemas que a gente vem enfrentando na Sonarts, só um decepciona, chateia mesmo: é constatar o quanto ainda há artistas apegados a velhos conceitos, velhos modelos de negócio. Você não ia acreditar em certas barbaridades que a gente ouve como exigência, isso mesmo, exigência que fazem pra Sonarts lançar seus trabalhos, como se estivessem nos fazendo um favor!!!! Sabe o estilo “duzentas toalhas brancas” e água mineral francesa??? Pois é bem por aí!!!! Querem um encarte assim, um label assado, fotos aqui, notícias acolá, não sei quantas cópias para divulgação, apoio pra isso, pra aquilo... E não tô falando de estranhos não, nada disso, falo de gente conhecida da gente, gente que muitas vezes só interessa à Sonarts porque é conhecida e próxima afetivamente. Pois aí, a gente ouve essas maluquices e responde com a maior educação, explica o anacronismo, dimensiona o disparate e sabe o que acontece? Os tais sequer respondem de volta, acredita? Nem uma satisfação, ao menos, ou seja, além de presepeiros são mal educados!!!!! Mas deixa isso pra lá, se tudo correr como a gente planeja a gente chega ao meio do ano com cerca de 15 lançamentos, 20 talvez, o que é muito mais do que esperado pra uma empresa tão pequena quanto a nossa. E viva a Sonarts!!!!

Saindo de meu microcosmo e ampliando a narrativa, preciso te contar que andamos todos às voltas com a dor e com a tristeza que vieram com as chuvas que viraram enxurradas e terminaram por se transformar naquela que está sendo considerada a maior tragédia natural da história do Brasil. Pois é, véio, mais de 600 mortos em poucos dias só na serra do Rio, fora os desaparecidos, feridos, desabrigados, desalojados. Pra quem está fora do alcance da tragédia, os dias têm sido de chorar diante da TV e de tentar ajudar de alguma forma, trocando informações, fazendo donativos, demonstrando indignação. Quem sabe rezar tem rezado, outros pensam positivo, há os escrevem em protesto. Mas a desolação não passa e é assim que estamos começando 2011, tristes, comungando uma tristeza solidária que nos mantém humanos, ao menos. Zé, vc sempre foi mais sábio e mais sabido que nós todos, agora então aí de cima, com a visão ainda mais ampla, me explica: qual o sentido disso? Pra que essa dor? Aqui onde vivo, a coisa andou feia também, fiquei ilhado por uns dias, tive deslizamentos aqui mesmo no nosso terreno, a cidade ficou alagada, sem abastecimento de água e sem telefone, mas não tivemos vítimas fatais, então dá pra ir levando sem maiores dramas.

Bom, Zé, por hoje é só. Prometo que não vou mais ficar tanto tempo sem escrever.

Valeu

Alexandre

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